domingo, 1 de março de 2009

Minhas Memórias de Leitura e Escrita

Nunca imaginei que uma aula pudesse me fazer voltar à infância em segundos!Ouvindo os colegas falarem de suas coleções, dos discos coloridos de histórias infantis (duas coisas neles me fascinavam - as cores e o jeito que as histórias eram contadas), da literatura infantil preferida na época, lembrei-me de como foi meu primeiro dia na escola!...Saia de pregas azul-marinho, camisa branca de gola redonda, meia também e sapato "boneca" preto: esse era o meu traje habitual vespertino em meados de 1970. Minha mãe me deixou no portão, desejou-me "boa sorte" e eu segui sozinha, embora estivessem próximas a mim, outras tantas crianças vestidas como eu. A sala era espaçosa, havia duas janelas grandes, assoalho enceradinho, mesinhas coloridas com quatro cadeiras. As crianças, depois de subirem uma escadaria, adentravam a sala e escolhiam seu lugar sob o olhar de "boas-vindas" da professora Neide. Todos tiraram de suas malas seus estojos, que continham lápis coloridos e começaram a desenhar suas garatujas na folha de sulfite branca, que fora entregue pela professora Neide. Aí, esbarrei no meu primeiro problema escolar: minha mãe não tinha colocado na minha mala lápis de cor! O que fazer?...Não, eu não era do tipo sociável, que conversava com os coleguinhas facilmente. Minha salvação foi o lápis de grafite preto, que estava no bendito estojo acompanhado da borracha. Que fiz?...Comecei a escrever as vogais, que minha mãe me ensinara em casa, quando me via rabiscando as folhas do jornal, que meu pai adorava ler e, não faltavam por lá. Vejam só, o que se sucedeu! O padre Aristides (do Colégio Salesiano Dom Bosco) aproximou-se de mim e me perguntou se eu conhecia o alfabeto, o que mais eu já sabia fazer. Respondi-lhe que sabia escrever meu nome também. Um ano virou um dia. Pois, no dia seguinte, fui promovida para a primeira série. Ah, benditos lápis coloridos que não foram colocados na mala! Mãe acerta até errando! Confesso, que o "segundo dia", que para mim era de novo "o primeiro dia de aula" foi muito melhor! Primeiro, porque eu estava me sentindo o máximo, segundo, porque enquanto minhas "quase coleguinhas" entraram na sala do prezinho, após subirem toda aquela escadaria, eu fui para a sala vizinha - a da primeira série.
Tínhamos, naquele tempo, um caderno de caligrafia, onde eu adorava treinar minha letra para deixá-la bem bonita! Anotar receitas para minha mãe, era comigo mesma! Assim, quando ela dava o livro de receitas para uma amiga copiar, via meu registro e, perguntava quem escreveu, mamãe toda orgulhosa dizia que fui eu.
Outra mania singular minha: fazer o sumário dos livros! Calma, vou explicar melhor. Os livros de enciclopédia tinham sim, seu sumário, que obviamente não tinha sido feito por mim. Então, elaborando o meu próprio índice, saberia usar a enciclopédia mais rápido, porque este seguia a minha lógica. Entendeu?..."Coisas de Verô"...
Viajava sem sair do lugar com as histórias de Walt Disney...Até ganhei um livro enorme dele com as melhores histórias do Mickey, Pateta, Pato Donald, que por sinal era meu personagem favorito com aquele jeito "nervosinho" de ser, mas cuidava como ninguém dos seus sobrinhos.
Já estava na quinta série, se não me engano, quando me vi debulhar por uma história e ter "medo" de virar as páginas do livro, porque não queria ver como terminaria a história de Zezé com seu Pé de Laranja Lima, seu maior confidente. Outra leitura que me marcou, foi Coração de Vidro do mesmo autor, José Mauro de Vasconcelos. Ia para meu quarto, deitava na cama e lá ficava por horas vivendo os dramas alheios e as alegrias também.
Quando tinha mais ou menos treze anos, ganhei um diário. Tinha até chave! Ah, que delícia escrever coisas em segredo, as emoções, os medos, os desejos, as verdades que não foram ditas ou as mentiras, que deveriam ser esquecidas, sem pensar que alguém iria lê-lo e corrigi-lo, sem preocupar-se se havia sentido ou não na construção daquelas frases, que eram tão somente conduzidas pelas lembranças dos meus dias...Ainda guardo dois dos meus diários. E, quando os releio, revivo com diferente intensidade aquelas passagens. Em uma das páginas, escrevi em letras bem grandes: "Olhai os lírios do campo, eles não fiam, nem tecem. Mas, nem Salomão com toda sua pompa conseguiu vestir-se como um deles". Disto eu nunca me esqueci.

2 comentários:

Maria José Nóbrega disse...

Verô,
que história!
Quando você falou de seu estojo, lembrei-me do delicioso cheiro dos lápis...
Apesar de não saber mais escrever no papel, que delícia é poder apagar as bobagens que se escreve e expulsar os erros com apenas um gesto de mão...
Beijos e bom domingo,
Mazé

Antonia Terra disse...

Veronice
Adorei suas memórias!
Boa semana!
Antonia