terça-feira, 26 de maio de 2009

O QUE É UM AUTOR?

"O nome do autor não é, pois exatamente um nome próprio como os outros. [...] o nome do autor funciona para caracterizar um certo modo de ser do discurso [...]" (FOUCAULT, 2006, p. 273)

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"O nome do autor não está localizado no estado civil dos homens, não está localizado na ficção da obra, mas na ruptura que instaura um certo grupo de discursos e seu modo singular de ser. Conseqüentemente, poder-se-ia dizer que há, em uma civilização como a nossa, um certo número de discursos que são providos da função “autor”, enquanto outros são dela desprovidos."
(FOUCAULT, 2006, p. 274)

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O nome de autor está atrelado não propriamente a um indivíduo real e exterior que proferiu um discurso, mas a um certo tipo de discursos com estatuto específico, isto é, aqueles cujo modo de ser, numa determinada cultura, torna-os providos de uma atribuição de autoria.
Assim, a noção de autor de que aqui se trata, menos que um nome próprio, é uma função.
Focault afirma que, o nome do autor faz com que os textos se relacionem entre si. Serve, então, para caracterizar um certo modo de ser do discurso: para um discurso ter um nome do autor, o fato de se poder dizer "isto foi escrito por fulano" ou "tal indivíduo é o autor" indica que esse discurso não é um discurso diário, indiferente, um discurso flutuante e passageiro, imediatamente consumível, mas que se trata de um discurso que deve ser recebido de certa maneira e que deve, numa determinada cultura, receber um certo estatuto. O nome do autor não transita, como um nome próprio, do interior de um discurso para o indivíduo real e exterior que o produziu, mas navega os textos, recortando-os, delimitando-os, evidenciando-lhes o seu modo de ser ou, pelo menos, caracterizando-lhes.
Diferentemente, na Idade média, não é o nome do autor que dá autoridade ao texto literário. Porém, o inverso ocorria com os textos científicos, que só eram valorizados pelo nome do autor.

Nos dias de hoje, a função-autor não resulta simplesmente da espontânea atribuição de um discurso a um indivíduo, mas de uma operação complicada que tem por efeito um "ser de razão", e portanto construído, e segundo determinadas regras (por exemplo, o autor é definido como "um certo nível constante de valor").
Por outro lado, e complementarmente, não apenas efeito de uma construção, o autor é também sinalizado e definido pelos próprios textos que, por sua vez, podem remeter, não a um indivíduo singular, mas a uma pluralidade de egos.

Em suma, o texto abordado, amplia o olhar para o autor, que a si próprio se coloca numa fronteira em que ele é e pode não ser igual a si mesmo.

Um comentário:

Márcia Fortunato disse...

Veronice, você fez uma interessante reflexão. Você já pensou como esse tema é relevante em tempos de internet?
Beijos, Márcia.