terça-feira, 14 de julho de 2009

A PRODUÇÃO DE TEXTOS COMO RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Alunos do 5º ano durante a realização de Produção de Textos (Re-escrita de um conto)

Linda Flower e John R. Hayen são professores da Universidade Carnegie Mellon, em Pitsburgh, na Pensilvânia (E.U.A), e em 1980, realizaram investigações acerca do processo cognitivo, que ocorre durante a produção de textos. Ambos consideram a escrita de textos uma atividade de resolução de problemas. Isto requer que "os escritores" sejam capazes de utilizar as reformulações textuais, ampliando a capacidade de julgar seus próprios textos, uma vez que, no processo de reformulação textual, o escritor insere, suprime, substitui e desloca palavras ou enunciados, reorganizando elementos em seu texto que eles avaliem como inadequados e podem pensar em uma boa maneira de mudá-los.

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"Portanto, para os autores desse estudo, resolver um problema implica, durante a operação de escrita de um texto, a mobilização de muitas habilidades." 1
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No modelo de Hayes & Flower, desenvolveu-se uma proposta para a identificação do processo da escrita, evidenciando três subprocessos centrais – planejamento, tradução e revisão - que podem ocorrer tanto concomitante quanto recursivamente. Ou seja, esses processos não são lineares, podendo ser realizados em qualquer ordem e a qualquer momento. Foi a partir do estudo pioneiro de Flower e Hayes (1981) que o texto passou a ser abordado como processo, isto é, a escrita não mais se limita ao produto, mas ao processo que o escritor está envolvido durante a escritura.

Rascunho de uma Produção de Texto de autoria de um aluno do quinto ano

Por outro lado, Bakthin afirma que o enunciado é composto não só de uma dimensão verbal, o seu material semiótico e a organização desse material em um conjunto coerente de signos (a organização textual), mas também de uma dimensão social, a sua situação de interação, que inclui o tempo e o espaço históricos, os participantes sociais da interação e sua orientação valorativa. Desse modo, considerando-se a dimensão social como parte constitutiva do enunciado, este tem autor e destinatário, tem uma finalidade discursiva, está ligado a uma situação de interação dentro de uma dada esfera social, entre outros aspectos. A situação de interação não é um elemento externo (contextual); ela se integra ao enunciado, constituindo-se como uma das suas dimensões constitutivas, indispensável para a compreensão do sentido do enunciado. Outro aspecto relevante é quanto aos gêneros do discurso. O autor refere que só nos comunicamos, falamos e escrevemos, através de gêneros do discurso. Para Bakhtin, até na conversa mais informal, o discurso é moldado pelo gênero em uso.Tais gêneros nos são dados, conforme Bakhtin (2003, p.282), “quase da mesma forma com que nos é nos é dada a língua materna, a qual dominamos livremente até começarmos o estudo da gramática”. 2 Já o enunciado, que pode ser falado ou escrito, pressupõe um ato de comunicação social, é a unidade real do discurso. Neste processo, existe uma interatividade entre sujeitos falantes. O receptor não é um ser passivo, ao contrário, ao ouvir e compreender um enunciado adota para consigo uma atitude responsiva, quer dizer, ele pode concordar ou não, pode completar, discutir, ampliar, direcionar, enfim, atuar de forma ativa no ato enunciativo. O que, em suma, Bakhtin (2004) afirma é que o produtor do texto tem como parâmetro de configuração textual o seu interlocutor e a situação na qual está inserido, isto é, “não é a atividade mental que organiza a expressão, mas, ao contrário, é a expressão que organiza a atividade mental, que a modela e determina sua orientação” (BAKHTIN, 2004, p. 112). 3

Pensar na audiência, planejar o texto, deter-se e relê-lo ou revisá-lo e refazê-lo são alguns dos comportamentos que o aluno-escritor precisa adotar para desenvolver a capacidade de escritura. Para que isso ocorra, a escola precisa oportunizar momentos de interação do escritor com seu texto, a fim de que ele possa compreender os elementos constituintes da textualidade.
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"Embora a audiência e a proposta de uma tarefa desencadeiem a escrita, são os objetivos do escritor com relação à situação retórica que o mobilizam a escrever, pois, durante a escrita de um texto, à medida que elaboram sua imagem do interlocutor, os escritores constroem progressivamente seus objetivos de escrita." 4
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Nessa perspectiva, faz-se necessário conceber a sala de aula como espaço de interação verbal, como o lugar onde todos aprendem e ensinam por meio de textos, construindo novos contextos e situações, transformando então, os sentidos que circulam na sociedade. Só assim poderemos proporcionar condições aos alunos-escritores para que possam desenvolver práticas discursivas frente ao texto escrito.

1. FORTUNATO, Márcia. A produção de texto como resolução de problema. In: ________, Autoria e aprendizagem da escrita. 2009. fls. 101-108. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

2. BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. p.261-306.

3. __________. Marxismo. Filosofia da Linguagem. 9ª ed, São Paulo: Hucitec, [1929] 2004.

4. FLOWER,L.; HAYES, J.R. The cognition of discovery: defining a rhetorical problem. In: PERL, Sondra (Org). Writing Process. Davis (CA, USA): Hermagoras, 1994, p. 63 - 74.

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