terça-feira, 14 de julho de 2009

A CRIANÇA E A ESCRITA

Ao final do artigo em que discute a exploração da dimensão reflexiva no ato de escrita por crianças, Maria Cecília Góes propõe:
"Finalmente, queremos sugerir, que uma direção produtiva para o estudo da constituição do escritor está na busca de compreensão sobre os diversos planos de dialogia implicados na produção escrita [...]" (GÓES, 1993, p. 115)
Em que se fundamenta tal sugestão? Que dados analisados nesse estudo orientam tal necessidade de compreensão?

Atividade de Produção de Textos: re-escrita do conto "O melão coroado" e sua ilustração

Escrever não é uma tarefa simples. Vemos que, apesar de ser a Língua Portuguesa, a língua materna e, consequentemente, de uso diário, de praticamente todos os estudantes brasileiros, muitas são as dificuldades quando se trata da produção de textos escritos.
Sabemos que, muitas vezes, os textos produzidos na escola não têm funcionalidade evidente; além disso, a forma como são dados os temas e o tempo destinados ao desenvolvimento desses temas em sala de aula podem deixar margem para indecisões, que acarretariam mudanças de curso após iniciado o texto.O modelo de Hayes e Flower (1980), um dos mais citados na literatura sobre produção de textos escritos, apresenta quatro elementos que compõem o contexto de produção do escritor: o leitor, o próprio escritor, o conteúdo semântico e a composição em si do texto.
Cabe lembrar também, que segundo esses pesquisadores - Flower e Hayes - o estudante pode ter recursos para desenvolver seu texto, mas não os utiliza no momento da composição.
Devemos considerar ainda, como destaca Maria Cecília Goés, no presente artigo em estudo, a existência de estratégias, quanto à revisão de textos, em crianças é muito limitada. Estas concentram-se mais na superfície, não atingem os enunciados, restrigindo-se a questões ortográficas ou palavras isoladas. Se é por meio de atividades que proporcionam a interação que se dá o desenvolvimento da capacidade linguística de comunicação; que se compreende o que se ouve ou o que se lê; que se aprende a produzir textos em situações variadas, sobre assuntos variados, o professor de língua deve oportunizar aos seus alunos condições necessárias a fim de que a interação ocorra durante a escrita, por meio da revisão e/ou re-escritura de textos. Dessa forma, o escritor, além de desenvolver, amplia a capacidade de textualização. Sob essa perspectiva, a revisão colaborativa com parceiros do contexto escolar possibilita a construção de reflexões sobre a escritura, pois quando duas ou mais pessoas se propõem a interagir por meio de uma ocorrência linguística falada ou escrita, elas irão cooperar para que a interlocução transcorra de uma forma que venha atingir os objetivos comunicacionais desejados.
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" A diferenciação funcional da escrita pode ou não avançar dependendo da qualidade das experiências, sobretudo as escolares, com a produção e análise de textos. (...) Supomos que dentre outras condições para esse refinamento está a possibilidade de interação com um " representante do leitor" , um interlocutor imediato que aponte para o sujeito as exigências de compreensão do leitor, visto ser fundamental a participação de outros, no jogo de relações face-a- face que se dão em torno do texto." 1
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Atividade de Produção de Textos - re-escrita do conto "O melão coroado"

O desenvolvimento do trabalho de intervenção, na escola, permite ressaltar que muitas são as possibilidades para ações pedagógicas focadas na produção escrita. E que, vale investir em atividades desafiadoras, que gerem polêmica, inquietação e instiguem os alunos a participar mais, envolver-se mais com as situações de seu entorno, do contexto sócio-econômico, político e cultural.
Salienta-se, também, que para qualquer trabalho que se queira desenvolver, é preciso ter clara a concepção que o fundamenta, e assim, se dê suporte a procedimentos metodológicos que assegurem uma boa aprendizagem. E, por fim, convém ressaltar que a escola é um dos locais mais propícios para que o aluno possa identificar-se como sujeito de sua história e, além da aquisição dos conhecimentos universais, tenha a oportunidade de exercitar-se no diálogo, nos questionamentos, na exposição de suas idéias, na análise das idéias dos colegas e de autores sobre diferentes temas em discussão. É o local em que pode, através da interação, desenvolver-se como ser social.
Desta forma, precisamos pensar a escrita como um processo de diálogo entre o escritor e o texto, para que possamos ter autores em nossas salas de aula.

1. GÓES, Maria Cecília Rafael de. A criança e a escrita: explorando a dimensão reflexiva do ato de escrever. IN: SMOLKA, Ana Luíza B.; GÓES, Maria Cecília Rafael de (Orgs). A linguagem e o outro no espaço escolar: Vygotsky e a construção do conhecimento. Campinas (SP): Papirus, 1993.

REFERÊNCIAS

BAKTHIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4.ed. São Paulo: Martins Fontes, (2003. p.280-326).

FLOWER, L.; HAYES, J. et al. Detection, Diagnosis and Strategies of Revision. College Composition and Communication, 2, v.32, p.365- 387. 1981.

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