Professor Titular (aposentado) de Linguística da Universidade Federal do Paraná
2. Como o autor responde ao título hamletiano “Ensinar X Não ensinar gramática: ainda cabe a questão"?
Não há dúvida de que os gregos e os romanos produziram um saber sobre a linguagem que não podemos menosprezar e que poderíamos resumir em três aspectos:
a) constituíram um vocabulário para se falar sobre a língua (o que hoje chamamos de metalinguagem) que continua circulando entre nós
(por exemplo, na organização dos dicionários);
b) formularam grandes perguntas sobre a linguagem humana, muitas das quais continuam bem presentes nas nossas especulações lingüísticas e filosóficas modernas;
c) sistematizaram três grandes direções para o estudo da língua que ainda hoje caracterizam alguns dos nossos modos de investigação da língua.(FARACO, 2006, p. 18)
É no final do século XV, que a situação estava mais madura para os estudos das línguas vernáculas, quando vem a necessidade de se sistematizar uma descrição dessas línguas e de registrar uma referência normativa, que atendesse aos objetivos de unificação linguística trazidos pela criação dos novos Estados unificados. Essas línguas, principalmente o português e o castelhano, apareciam como línguas imperiais e isso favorecia os movimentos unificadores.
Os gramáticos trouxeram como modelo de descrição das línguas vernáculas as antigas gramáticas latinas, principalmente a de Prisciano, modelo bem enraizado entre nós.
Todo esse esforço tinha como objetivo contribuir para fixar um padrão de língua.
" O estudo da língua entre os gregos e os romanos visava primordialmente o domínio das habilidades de certos tipos de fala e de escrita". Portanto, estudar gramática deveria contribuir para o desenvolvimento daquelas habilidades vistas como ideais a serem cultivados. "Desse modo, ela não era uma matéria que se esgotava em si mesma: não se tratava de estudar a gramática pela gramática, mas de refletir sobre a estrutura da língua, sobre os padrões sociais de correção e sobre os recursos retóricos com vistas a melhor manejar a fala e a escrita."
No Brasil, o modelo medieval do ensino da língua veio com os jesuítas no século XVI embasado em um modelo elitista e artificial do ensino da língua materna. De lá para cá, a gramática tradicional prevalece e a escola continua a ensinar no século XXI uma norma padrão artificial, que se denominou a forma correta de escrever e falar.
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